Sempre me fascinou a relação texto/música.Temas e fontes inesgotáveis para a criação artística, protestos, histórias alegres ou tristes... Muitas vezes a música vem, também em forma de poesia. Poesia feita de palavras, medida e ritmo. O ritmo é o núcleo da poesia. Os poetas verdadeiros são especialmente músicos de primeira ordem. A poesia da letra de música é uma escrita cadenciada, sonora... E sempre vale a pena ser apreciada. "Welcome/Bienvenue/Bienvenidos/Benvenuto/Irashaimasu”

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domingo, 29 de julho de 2007

Sing e Speechlees-Fábula



Sing era uma canção linda, calma e romântica que adorava vagar cantando por todos os cantos do mundo, pegar carona com o Vento e não gostava de se apegar a nada. A maior vontade dela era ser sentida, encantar e mostrar para todo mundo toda a sua arte: seu som; mas, apesar do talento, não era sentida nem tocava ninguém, com exceção do seu colega, Vento, que a sentia e amava o som dela.
Quase todas as noites, no momento em que as Onzes da noite despertava, Sing, deitada no colo do Vento, cantava, olhava para Lua, sentindo que algo lhe faltava: um vazio que nem sequer o colega sabia o que era. E na hora em que o vazio arranhava o coração dela, o Vento logo a consolava soprando na face de Sing, que cantava perguntando ao olhar para Lua: - Sou linda, calma e romântica. Por que não toco ninguém? Por que? Por quê?
Numa praia, numa noite, no instante em que as Onzes dormiu, a canção ao parar de cantar, duas nuvens que estavam ao lado da Lua acalentando-a passaram a chocar-se como se fossem duas mãos batendo palmas, para reverenciar o canto de Sing. E na ocasião em que pararam de se chocar, elas (uma nuvem tinha o formato de S e a outra o de S ao contrário), uniram-se, beijaram-se, formando um coração que levava o olhar da canção em direção a uma fortaleza iluminada com a forma da lua cheia. Mesmo tão distante, Sing podia vê-la assim como via o Luar, e logo depois, passou a ouvir um som desconhecido que vinha daquele lugar. O som parecia uma mão que suplicava a ida dela até a fortaleza. - Vem! Vem! Vem! – expressava o som.
Não demorou muito para a canção, bastante curiosa, ir até lá.
– Vento, leve-me até aquele lugar iluminado, que está bem distante – com ansiedade, pediu.
Eram 00:22, aproximadamente, quando o Vento reclamou: - Oh! Não! A esta hora! Logo agora. Estou com sono e cansado, mas vou te levar.
Carregada pelo Vento, apreensiva, Sing ia em direção a ela; e ao passo que se aproximava, as duas nuvens se desmanchavam aos poucos. Às 00:59, quando chegou à fortaleza, que ficava no centro dum oceano, as duas nuvens sumiram, e aquele som desconhecido era mais nítido, bem sentido.
Já em frente, ela ficava surpresa com a imensidão e arquitetura de a fortaleza, que lembrava, naquele instante, a lua minguante e mistério. Todos os quartos estavam escuros, exceto um que estava na parte mais alta, era bem iluminado e chamava a atenção por causa da iluminação e do som imensos.
- Você vai ficar aí parada só olhando? – perguntou o Vento.
- Não. Claro que não. É que estou abismada admirando este local. Estar nele é estar na Lua. Você pode me levar até lá, até aquele quarto iluminado?
- Puxa! Eu não gosto de ficar subindo e de altura; mas, por você, farei mais esse esforço.
Com a ajuda do Vento, ela subia e subia (como estivesse flutuando), chegando até o quarto.
- Vento, obrigada por tudo. Você foi demais. Sinto que vou aqui ficar bastante tempo. Acho melhor a gente se despedir. Você está tão cansado e com uma cara de sono; depois você vem me pegar.
- Você tem razão. Eu tenho de ir mesmo. Estou com muito sono e cansado. Preciso ir. Aqui não dá para descansar por causa desse alto barulho. Tchau! Sing – emocionado, despediu-se o Vento dando um beijo na orelha dela.
- Tchau! Até logo. Por que o Vento deu um beijo na minha orelha? – despediu-se e logo depois, pensou.
Sentada numa das janelas enormes e redondas, dava tchau para o Vento, e logo depois que o mesmo sumiu no meio das águas, abismada, passou a observar aquele som que se chamava Rock, o qual embalava homens e mulheres que estavam todo de branco e dançavam alucinados de olhos arregalados. Vendo Rock ser sentido e encantar, ela resmungava:
- Esse som é feio, rústico e veloz. Como ele pode ser sentido e agitar todas essas pessoas? Eu sou linda, romântica e calma e não consigo ser sentida nem tocar ninguém. Por que isso?
- Acho que somente Deus deve saber. Eu não entendo, também, como ele pode ser sentido e tocar todas essas pessoas – comentou Speechlees, depois de ouvir a reclamação dela. – Speechlees: um arranjo lindo e romântico que estava próximo de Sing, a qual nem sequer tinha-o visto e ficou encantada com a voz e aparência dele.
Depois de Speechlees falar, ela nem disse um oi sequer para ele. Paralisada, sentia uma enorme vontade de bater um papo com ele, mas o orgulho era maior que a vontade. Speechlees, também, tinha se encantado e queria conversar, mas, também, sentia um enorme orgulho. Lado a lado, sentados, os dois observavam as pessoas dançarem, e de vez em quando, um olhava para o outro, disfarçando.
A canção, impaciente e curiosa para saber o segredo de Rock, desceu da janela, olhando meigamente, um olhar de despedida para Speechlees, e passou a andar no meio das pessoas, que não paravam de dançar. Ela as observava e se concentrava no som, tentando entender o segredo dele. Cansada de tanto observar, andar e se concentrar, sentou-se no piso, com a cabeça baixa. Vendo Sing aparentemente abatida, Rock foi até ela.
- Garota, por que você está assim? - perguntou Rock.
Com vergonha de falar, ela nem olhava para olhos dele, com receio de demonstrar que o achava feio e não entendia o porquê de ser sentido e encantar as pessoas.
- Não. Não é nada – gaguejou, envergonhada, já olhando timidamente para Rock.
- Pode falar garota. Não tenha medo de falar. Hum...! Ah...! Imagino o que seja. Ouça... Apesar de eu ser rústico, veloz e (parecer) feio, sou sentido, encanto e toco as pessoas porque estou preso a algo. Eu estou preso ao CD. O meu segredo é o CD. Sinto em você o desejo de só viver livre e não querer se prender a nada. Se você quer ser sentida e encantar, precisa prender-se a algo, como se prender ao CD. Lá no fundo está o CD; lá naquela lareira, você o encontrará. Se você quiser prender-se a ele, esta é sua chance.
- Como você sabe tanto sobre mim e o que penso? – perguntou, surpresa.
- Você está vendo aquele rapaz na janela: Speechlees? Ele disse que não encanta nem toca ninguém, apesar de ser lindo e romântico; e não entende como posso ser sentido e encantar sendo feio, veloz e rústico: grosseiro. Garota, eu senti no seu tom de voz e em seu olhar uma certa injustiça e inveja de mim e um grande vazio. Seu olhar era igual ao de Speechlees.
Depois de ouvi-lo, não falou mais nada, entendeu bem o recado de Rock e foi em direção à enorme lareira, que ficava ali mesmo no quarto, para se prender ao CD, cuja metade era branca, outra era preta; tinha forma redonda e o tamanho do Sol visto da Terra; feito de diamante, flutuava, brilhava e pulsava.
O andar de Sing dava pausas em Rock: no som dele; e assim que chegou em frente à lareira, o quarto ficou em silêncio: Rock ficou calado; todos dali ficaram observando a canção, que ao ver o CD dentro da lareira com chamas, sentia medo de entrar nele.
- Para ser sentida e encantar, tenho de me prender ao CD. Essas chamas vão me machucar? Acho que vou me machucar. Estou com medo das chamas e de me prender ao CD. E agora? – pensou alto ela, já bem em frente da lareira.
Todo mundo esperava a decisão de Sing, a qual não sabia que estava sendo observada. Não demorou muito para ela sentir algumas batidas nas próprias costas, e ao olhar para trás, viu Speechlees com um olhar apaixonado, cantando: - Tenha coragem. Dê-me a sua mão. Vamos adiante. Eu também estava com medo e pensava como você. Eu poderia ir sozinho para o CD, mas senti que não era o momento. Eu esperava por algo, esse algo é você, Sing. Há dias, eu estava esperando sentado na janela algo especial aparecer: você.
Sem conversar, pegou nas mãos dele, e os dois caminhando, entraram na lareira. As chamas não os feriam porque eram uma ilusão. Às 2:22 da manhã, ao tocarem com polegar esquerdo no CD, o casal foi sugado por ele: Entraram em um mundo nunca habitado por nenhum som, vida... onde só tinha duas nuvens: aquelas que conduziram o olhar da canção. Esse mundo era como a Lua, mas ao passo que Sing e Speechlees andavam juntos, criavam vidas nele: flora, fauna, melodias...
No CD, logo que os dois entraram, Rock, que tinha a religião como companheira, sumiu: foi descansar, e aquelas pessoas: homens e mulheres que dançavam alucinadas, separadas e de olhos arregalados, passaram a dançar lentamente, juntos e de olhos fechados. Casais bem abraçados dançavam ao som de Sing e Speechlees, que, presos ao CD: coração divino, tornaram-se UM “Sól”, uma melodia, uma nota musical, um astro... De lá, os dois já podiam encantar e ser sentidos por todo mundo, uma vez que foram gravados por Deus.
Antes do casal, aquele mundo: um compartimento do CD, era vazio, o vazio que os dois sentiam. Agora, o mundo é cheio de vidas, sons, afetos, esperanças e alegrias: águas de Lá, que parece a Terra em época de outono.
O Vento sabia que aquele dia em que se despediram seria o último em que se veriam. Por isso, deixou de si um pedaço dentro da orelha dela; pedaço, que criou a Brisa no mundo de Sing, a qual, agora, já o sente como um amigo. A Brisa faz lembrá-lo e mata um pouco a saudade dele quando a canção fica sentada nas árvores pensando nos momentos em que passaram.
Ao se prenderem ao CD: AMOR, os dois sentem uma liberdade maior que a de antes. O vazio que ela sentia foi preenchido por Speechlees. Encantados e encantando, já vivem no mundo, por eles, CHAMAdo Amor.
O CD não pode ser arranhado nem destruído por nada e tem infinitos compartimentos esperando ser preenchidos por Vocês.

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